segunda-feira, 20 de abril de 2015

O corpo que entende a física: Le Parkour (o percurso) da teoria à prática (desportiva)




O vídeo acima, The World's Best Parkour and Freerunning, descobri na rede social e mostrei ao meu filho de dez anos que, encantado, me perguntou como era possível fazer tudo aquilo - ser um "homem aranha" - e se havia algum tipo de efeito especial naquilo?
Conversei como ele que ali estavam atuando as leis da física, pois aquele jovem atleta não vestia nenhum tipo de equipamento, apenas usando e abusando da força e da velocidade, e os limites do corpo e da arquitetura. Mas como era leigo na área, pediria ajuda a alguém que fosse um especialista para explicar melhor.
Dito e feito. Pensei logo no colega e amigo José Carlos Antonio, professor de física em Santa Bárbara do Oeste, SP, Brasil e editor do blog Professor Digital.
Convite feito, via Twitter e depois por e-mail, o Professor Digital, gentilmente elaborou um texto que é um primor de objetividade, concisão e poesia, vindo ao encontro da intenção deste blog e postagem, mostrando as intertextualidades entre a prática esportiva (educação física) e a própria disciplina de física, e como é possível que estes dois educadores, em uma escola, interajam com seus alunos demonostrando como O Percursos (Le Parkour) une teoria e prática.
Segue abaixo o texto produzido especialmente para este blogueiro educacional e para esta postagem:

O corpo que entende a Física, por José Carlos Antonio

No Le Parkour fica evidente como somos adaptados para aprender Física independentemente das aulas que temos no colégio. Os movimentos exigem precisão, equilíbrio, força e muita habilidade. Nossa biologia se encarregou de dotar nosso cérebro com o "poder" de entender alguns princípios físicos e aplicá-los, mesmo sem saber suas definições formais e sem que nenhuma conta seja feita.
O atleta do Le Parkour tem aulas de Física aplicada durante seus treinamentos. Em cada erro ele aprende como fazer melhor da próxima vez. Um aprendizado que pode custar tombos doloridos ou coisa pior, mas que funciona não só nesse exótico esporte como também em todos os demais.
A beleza de conhecer a Física como disciplina formal, seus princípios e leis, não está em ser capaz de fazer os mesmos movimentos que o atleta, mas sim em compreender como eles funcionam!
Para o atleta tudo é desafio, diversão e superação. Para o físico, ou um admirador da Física, além da graça dos movimentos há todo um jogo de transformação de energia, alavancas e pontos de equilíbrio, conservação do momento linear e angular, impulso, centro de massa... Enfim, uma infinidade de conceitos que estão graciosamente presentes no espetáculo.
Ao leigo que nada sabe de Física cabe apreciar "meio espetáculo" mas, conhecendo um pouco mais a Física podemos "sentir" como todas essas leis e princípios estão presentes nos movimentos e, dessa forma, o atleta se torna mais que uma pessoa apenas habilidosa: ele se torna um espetáculo da natureza e um grande físico experimental.


Como educadores, sempre querendo aprender, para melhor ensinar, ainda temos um logo PERCURSO, observando a arquitetura escolar, seu espaço, as forças físicas do tempo agindo sobre as coisas e as pessoas, a resistência do ar e a resistência de alguns, por receio do novo e da novidade... Como o jovem que usa essa própria arquitetura ao seu favor, com força e velocidade, o educador de século XXI, precisa se adaptar às novas forças de interagir com o aluno, pensar novas didáticas e metodologias para tecnologias que são substituídas com cada vez maior velocidade e força. O computador de mesa (desktop) foi ultrapassado pelo notebook, que já está sendo substituído pelo tablet, que logo terá algo para superá-lo. Entretanto, o ato de educar jamais poderá ser substituído por uma máquina, justamente por envolver outros fatores, como bagagem cultural, experiência de vida, afetividade etc.
Mas uma coisa que, como educador e editor deste blog, tenho aprendido nesse meu percurso é que através das trocas de saberes com outros colegas e alunos, podemos superar certos limites ou utilizá-los como ponto de apoio para saltos maiores rumo ao futuro. E pensar atividades cooperativas entre professores e colaborativas entre professores e seus alunos, facilitam um novo percurso em comum, em comunidade.
Afinal, Isaac Newton, pai da moderna física, já dizia em sua Terceira Lei, da Ação e Reação, que toda ação resulta uma reação ("Para toda interação, na forma de força, que um corpo A aplica sobre um corpo B, dele A irá receber uma força de mesma direção, intensidade e sentido oposto"). E podemos dizer que a cada ação educativa do professor e da escola resultará uma reação do aluno.
Como não domino o conteúdo da física, tampouco a educação física, aproveitei a poética, que é a área de minha formação, para complementar esta minha breve reflexão. Embora, tanto professores de física como de educação física devem convir comigo que os saltos, cambalhotas, e outras acrobacias do Le Parkour são poesias visuais àqueles que ficam a tudo observar :-)
Abaixo, segue vídeo David Belle - Parkour (Origine Le Parkour), com o filho do criador da técnica e arte do Le Parkour, que conforme apresentação do mesmo no You Tube, "remonta a década de 1960, durante a guerra do Vietnã, quando o soldado francês Raymond Belle utilizava o corpo para transpor obstáculos de forma rápida e fluida para resgatar feridos nas florestas fechadas do País. A inspiração veio do fisiculturismo de Georges Herbert (1875-1957), o tão conhecido método natural. Na década de 80, o filho de Raymond Belle, cujo nome é David Belle, adquirindo o conhecimento do pai, transpôs todos os movimentos e técnicas para as 'ruas', utilizando o mobiliário urbano como possíveis obstáculos. Para isso houve todo um estudo de sua parte para desenvolver o que hoje chamamos de Parkour".



As cenas em câmera lenta demonstram toda a técnica e uma arte passada de pai para filho, como deve ser o conhecimento humano, transportado de geração à geração. No Le Parkour, o respeito às leis da física e a geometria e a arquitetura das coisas é essencial para que velocidadee força atuem sobre os mesmos. Aprender com o meio para atingir uma finalidade... Aprender com a movimentação dos corpos dos alunos, que requerem práticas não tão fixas e sim móveis. Que a mobilidade dos equipamentos tecnlógicos seja também utilizada em projetos de ensino e aprendizagem que permitam essa movimentação dentro e fora da escola, em atividades curriculares e extracurriculares, presenciais e/ou a distância...
É um percurso longo e ainda estamos todos aprendendo uns com os outros...

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